/

Ordem de prisão de líder das Mães da Praça de Maio gera crise na Argentina

1

Ministerio de Cultura de la Nación / Flickr

Hebe de Bonafini, líder das Mães da Praça de Maio

Hebe de Bonafini, líder das Mães da Praça de Maio

Um juiz federal argentino ordenou, esta quinta-feira, a prisão de Hebe de Bonafini, líder das Mães da Praça de Maio, mas após a reação nacional e internacional à sua prisão a ordem de detenção foi suspensa.

Ao investigar novos escândalos de corrupção, ligados ao governo de Cristina Kirchner, a organização liderada por Hebe de Bonafini – integrada por mulheres que procuram os filhos desaparecidos durante a ditadura militar (1976-1983) e que continuam a exigir a prisão dos sequestradores – foi acusada de desviar fundos destinados à construção de casas populares.

A ordem foi emitida pelo juiz federal Marcelo de Martínez de Giorgi depois de a ativista de ter recusado a comparecer a duas audiências. Bonafini nega as acusações, e terá enviado ontem uma carta ao juiz, através dos seus advogados, em que afirmava estar a ser perseguida pela Justiça.

Quando a justiça ordenou a sua detenção, fintou a polícia, entrou numa carrinha e, amparada por centenas de simpatizantes, foi até a Praça de Maio, para comandar a marcha que realiza todas as quintas-feiras, há 40 anos, para exigir a punição dos crimes da ditadura.

Na praça, onde se formou um cordão humano à volta de Bonafini para impedir que fosse detida, fez um discurso contra o presidente Mauricio Macri.

A decisão do juiz contra Hebe, que coincidiu com um protesto contra aumentos nos serviços públicos, está a ser usada pela oposição a favor do governo de Cristina Kirchner. A ex-presidente também está a ser investigada por enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro e má administração.

A ordem de prisão contra Hebe teve repercussão internacional porque, aos 87 anos, esta é vista como uma mulher de coragem que desafiou a ditadura.

Mães divididas

Apesar de a Argentina viver em democracia há 33 anos, as Mães (a maioria octogenárias) mantiveram o ritual, inaugurado no regime militar. Todas as quintas-feiras, reúnem-se às 15h30 em frente à Casa Rosada e andam em círculos.

Na próxima semana, a organização das Mães da Praça de Maio comemora duas mil voltas à volta da praça.

As Mães dizem que vão continuar a marchar até que a justiça castigue todos os criminosos da ditadura e para que as novas gerações não cometam os erros do passado.

No entanto, unidas durante a ditadura, as Mães da Praça de Maio dividiram-se na democracia.

Um grupo, a Linha Fundadora, manteve a independência e os princípios da organização, de defender os Direitos Humanos.

O outro, liderado por Hebe, passou a ter uma atuação mais política e alinhou-se ao governo da ex-presidente Cristina Kirchner, que financiou o projeto Sueños Compartidos (Sonhos Compartilhados), para construir casas populares.

Hebe de Bonafini é acusada de não ter entregue o dinheiro do Ministério do Trabalho, entre 2008 e 2011, aos operários que ergueram as casas. Ela atribuiu o desfalque, equivalente a mais de 10 milhões de euros, a um grupo encarregado de administrar as obras, e tem afirmado repetidas vezes que não percebe nada de construção.

Para a justiça argentina, Hebe de Bonafini é culpada de desacato.

ABr

1 Comment

  1. Pois…a intenção inicial é boa, mas depois…vendeu à presidente corrupta. A sra foi presa por não comparecer no tribunal, e não por outros motivos. Por muito que respeita a luta e a sra o facto é que não há cidadãos acima da lei

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.