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Último Estado da União de Obama contra discurso apocalíptico republicano

Chuck Kennedy / The White House

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama

Com um tom progressista, o presidente dos EUA, Barack Obama, apontou na noite desta terça-feira, no seu último discurso do estado da União, que o país não deve isolar-se como defendem os que usam retórica do medo do terrorismo.

Obama reforçou também a necessidade de buscar uma economia mais justa e igualitária e defendeu mudanças no sistema eleitoral americano, com o fortalecimento do voto direto.

Durante quase uma hora, o Presidente norte-americano fez o balanço dos seus sete anos de governo, mas frisou que o foco seria no futuro e em como os Estados Unidos deveriam ser construídos por todos: brancos, negros, latinos, democratas e republicanos.

Ao falar da ação de grupos como o Estado Islâmico, Obama observou que o país deve ir atrás dos terroristas, mas que não deve acreditar que estes “representam uma ameaça à existência da nação”.

O presidente americano defendeu que o combate ao EI é uma prioridade, já que usam a Internet para envenenar as mentes de indivíduos dentro do próprio país.

Na visão de Obama, no entanto, isto não quer dizer que os Estados Unidos devam ser radicais contra a diversidade religiosa e ideológica em seu território.

O nosso inimigo está escondido em garagens e apartamentos e vamos atrás deles, que representam um perigo para os civis. Mas não precisamos destruir alianças ou afastar aliados vitais nesta luta baseados na mentira de que o Estado Islâmico representa uma das maiores religiões do mundo”, afirmou.

Obama enfatizou o tema, em particular porque a ideia de endurecer as regras para muçulmanos é uma das propostas que vem impulsionado o crescimento do multimilionário Donald Trump, pré-candidato presidencial e líder nas pesquisas entre os Republicanos.

O presidente lembrou que os Estados Unidos lideram uma coligação de mais de 60 países na estratégia de cortar o financiamento do EI e nos ataques aéreos. “Além disso, estamos a assumir a liderança dos seus campos de treino e a apreender as suas armas”, disse.

Obama também exortou o Congresso a autorizar o uso de forças militares contra o EI e afirmou que embora o fico primordial da política externa de segurança do país deva ser o combate ao EI e à Al-Qaeda, também é importante trabalhar pela estabilidade em África, América Central e Ásia.

Obama também lembrou as conquistas da política externa baseadas na diplomacia, como o acordo nuclear com o Irão e falou da importância do restabelecimento das relações diplomáticas com Cuba, ao fim de 50 anos, chamando ainda a atenção do Congresso para que retire o embargo económico e ressaltou mais uma vez que a prisão de Guantanamo deve ser fechada.

Nova economia

Obama ressaltou as conquistas económicas e como o país saiu da crise em 2008 para manter-se a maior economia do mundo e em ascensão em 2015, com mais de 14,1 milhões de novos empregos no ano passado – o melhor desempenho desde a década de 1990.

“Qualquer um que diga que a economia da América está em declínio está a disseminar uma ficção. A verdade, que deixa muitos americanos ansiosos, é que a economia tem mudado de forma profunda”, comentou.

Crítico, Obama defendeu que os critérios da economia devem ser repensados e que as grandes corporações financeiras, industriais e petrolíferas deveriam ser reguladas. Obama admitiu não ter conseguido, nos seus dois mandatos, chegar a um acordo sobre qual deve ser o papel do governo para garantir que o sistema não seja manipulado em favor das empresas mais ricas.

“Aqui, o povo americano tem uma escolha a fazer, e o nosso foco nesta nova economia deve ser o trabalhador, a pequena empresa e como garantir que exista justiça e igualdade de oportunidades”, destacou.

Obama Defendeu ainda a manutenção e o alargamento das mudanças no sistema de saúde e no plano de assistência que criou, o Medicare, apelidado de Obamacare, e o sistema de segurança social.

O presidente referiu-se também ao aquecimento global e apelou para que as empresas coloquem os seus lucros e o seu poder ao serviço da tecnologia para encontrar caminhos sustentáveis.

“Temos de acelerar a transição para energia limpa“, defendeu, mencionando que o país deixou de importar 60% de petróleo, mas precisa colocar dinheiro na construção de um sistema de transporte do século 21.

Sistema eleitoral

Obama terminou o discurso com uma reflexão sobre o sistema político e eleitoral no país, afirmando que a política norte-americana precisa de mudanças e da construção de um debate de alto nível.

“Uma melhor política não significa que temos que concordar em tudo. Este é um grande país, com diferentes regiões e atitudes e interesses. Esse é um dos nossos pontos fortes, também”, afirmou.

Indiretamente, Obama voltou a condenar discursos radicais como o de Donald Trump. “A nossa vida pública murcha quando apenas as vozes mais extremas chamam a atenção“, disse.

Obama reforçou a necessidade do defender um maior peso do voto direto nas eleições, afirmando que é preciso acabar com a prática de desenhar distritos congressionais de modo a que os políticos possam escolher os seus eleitores, e não o contrário.

O Presidente norte-americano defendeu mesmo uma mudança no sistema de financiamento eleitoral. “Temos de reduzir a influência do dinheiro na nossa política, um punhado de famílias e interesses ocultos não pode financiar nossas eleições”.

Obama exortou os cidadãos norte-americanos a buscarem esta mudança “não apenas em quem é eleito, mas no que toca a como são eleitos” – o que só acontecerá quando o povo americano a exigir essa mudança. “Vai depender de si. Isso é o que se entende por um governo de, por e para o povo“, declarou.

O presidente terminou o pronunciamento afirmando que essa mudança não vai ser fácil.

“Posso, no entanto, prometer que daqui a um ano, quando já não ocupar este cargo, eu estarei lá consigo como cidadão, inspirado por essas vozes da equidade que nos ajudam a ver a nós mesmos não como negros ou brancos, asiáticos ou latinos; não como gay ou hetero, imigrantes ou nativos; não como democratas ou republicanos, mas como americanos, acima de tudo, vinculados por uma crença comum”.

ZAP / ABr

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