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Medicamentos nos rios estão a mudar o sexo aos peixes machos

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vpickering / Flickr

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Os seres humanos tomam paracetamol para a dor de cabeça, contraceptivos para evitar a gravidez e Prozac para a depressão. Mas para onde vão os resíduos destas substâncias, uma vez cumprida a sua função?

O corpo humano elimina muitos dos medicamentos que ingere através da urina.

A urina vai para os esgotos e, depois de atravessar um sistema imperfeito de purificação, os resíduos desembocam nos rios que alimentam o planeta.

Embora as concentrações de drogas na água sejam baixas, as consequências para os ecossistemas não deixam de ser preocupantes.

Há já registos de peixes machos que adquirem características femininas,  aves selvagens que perdem a vontade de comer, e populações inteiras de peixes e outros organismos aquáticos dizimadas.

Diversos estudos sobre o impacto da poluição farmacêutica sobre a vida selvagem apontam para que o uso crescente de drogas estudadas para serem biologicamente activas em baixas doses pode estar a causar uma crise global da vida selvagem.

york.ac.uk

A investigadora Kathryn Arnold, da Universidade de York

A investigadora Kathryn Arnold, da Universidade de York

“As populações de muitas espécies que vivem em paisagens alteradas pelo homem estão a encolher, por razões que não podemos explicar completamente”, diz à BBC a investigadora Kathryn Arnold, da Universidade de York, na Inglaterra.

“Acreditamos que é altura de explorar novas hipóteses, como a poluição farmacêutica.”

Machos femininos

Para os seres humanos,  a presença de drogas em baixa concentração na água não é um problema: seria necessário tomarmos 10 a 20 milhões de litros de água da torneira para ingerir a medicação suficiente para, por exemplo, aliviar uma dor de cabeça.

Mas no caso dos peixes, a história é outra.

O biólogo John Sumpter, da universidade britânica de Brunel, foi um dos primeiros a estudar os peixes machos com características femininas, descobertos na década de 90.

“A primeira coisa que descobrimos foi que havia muitos peixes nos rios que tinham uma proteína do sangue, conhecida como “gema”. A síntese desta proteína no fígado é controlada pelo estrogénio”, disse a Stumper à BBC.

Sumpter explica que mesmo os peixes machos – que não produzem quantidades significativas de estrogénio e, portanto, não têm gema – apresentavam uma alta concentração desta proteína.

“Especialmente os peixes que habitavam nos rios perto de uma estação de tratamento “, notou Stumper.

brunel.ac.uk

O biólogo John Sumpter, da universidade de Brunel

O biólogo John Sumpter, da universidade de Brunel

“Uma vez que eram os machos que estavam a tornar-se mais femininos e não o contrário (fêmeas a adoptar características mais masculinas), achamos que a causa poderia ser o estrogénio.”

Stumper tinha razão: estudos posteriores confirmaram que as mudanças estavam relacionadas com a presença de resíduos de contraceptivos na água.

“A nível molecular, os peixes são extremamente semelhantes aos homens”, diz o biólogo.

“Assim, quase todos os fármacos para seres humanos têm também efeito sobre os peixes”.

Impactos

De acordo com um relatório da Agência Federal Ambiental da Alemanha, as drogas para os seres humanos que mais causam desequilíbrios ambientais são as hormonas, antibióticos, analgésicos, antidepressivos e drogas para combater o câncer.

Entre os medicamentos veterinários, o relatório destaca as hormonas, antibióticos e parasiticidas.

Tal como as hormonas sexuais sintéticas, os antidepressivos dissolvem-se em gordura, mas não na água. Por isso, podem entrar na corrente sanguínea dos organismos expostos à água contaminada.

Se o problema tem origem nos resíduos na água, talvez a solução passe por reduzir a presença dos fármacos que vão parar aos rios.

Ole Phal, professor da Universidade de Glasgow Caledonian, defende uma abordagem que inclua uma discussão sobre a produção e o uso de medicamentos.

“Estaremos a tomar medicamentos a mais? Estaremos a usá-los correctamente? Haverá alguma maneira de nos desfazermos deles que seja mais benéfica para o meio ambiente?”, pergunta Phal.

“Precisamos muito de refletir sobre o uso que estamos a fazer das drogas farmacêuticas”, diz o cientista.

ZAP / BBC

2 Comments

  1. Há que ter cuidado e corrigir antes de colocar online. No quarto parágrafo a contar do fim: “farmacêuticos que vão para o rio”, não é o mesmo que “fármacos que vão para o rio” aquilo que provavelmente se quereria dizer.
    Boa informação mas não descuidem a equipa de correção

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