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Manifestações constantes agravam falta de bens em Caracas

ervega / Flickr

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A cidade de Caracas, capital da Venezuela, tem sido palco das últimas seis semanas de manifestações constantes, um processo que paralisou a economia e acentuou a falta de bens de consumo e a insegurança.

Promovidas pela oposição e pelos partidários da Revolução Bolivariana do Governo, as manifestações são organizadas pelo Partido Socialista Unido da Venezuela e organizações aliadas e, por outro, pelos opositores da Mesa de Unidade Democrática e partidos aliados.

Mas, em paralelo, são cada vez mais frequentes as manifestações inorgânicas, promovidas por redes sociais, como foi o caso dos estudantes, que reclamavam melhores condições de ensino e paz social.

A cidade todos os dias acorda cedo mas muitos dos seus habitantes não vão trabalhar mas sim preparar as manifestações do dia.

“Estamos aqui por um melhor futuro, por um melhor país para o meu bebé de 11 meses. Venho todos os dias para ajudar com a logística, todo o tempo que for preciso”, explicou Francisco Urdaneta à Agência Lusa, que se afirma equidistante dos dois lados.

Com 20 anos de idade, quer ser psicólogo, para entender melhor as pessoas e resiste à ideia de sair do país. “Concentramo-nos na Praça de Altamira porque as pessoas nos apoiam, dão-nos de comer, fazem-nos chegar mensagens de alento e avisam-nos da presença da polícia, mas é preciso estar preparado para os ataques da Guarda Nacional” (polícia militar).

“As manifestações são a partir das cinco, seis horas da tarde, mas pelas 10 horas da manhã começamos com os preparativos, coordenamos ideias, escrevemos cartazes, procuramos posições para chamar melhor a atenção”, explicou.

Ainda assim admite que “é preciso muito cuidado para que os protestos não aqueçam e as coisas fiquem violentas, porque há infiltrados que nós próprios temos dificuldade em descobrir”, salientou.

Longe das manifestações “espontâneas” Mary Carmen La Cruz participa em todas as marchas convocadas pela oposição, “as grandes e as pequeninas”.

“A direção da Mesa de Unidade Democrática reúne-se e decide quando vão marchar, até onde e como se chamará a marcha. Um coordenador avisa os grupos dos partidos políticos que definem pontos de concentração onde se reúnem todos, como uma saída do Metro e daí vamos juntos até ao sítio onde de onde partiremos, é uma maneira de proteger-nos e compartilhar entre todos”, disse.

Com 45 anos e de profissão doméstica, sai à rua pensando num melhor país para os seus dois filhos, “onde haja liberdade, pluralismo e oportunidades”. A maior parte das manifestações da oposição têm lugar sobretudo no leste de Caracas e fora dos bairros residenciais.

“Nos bairros é mais difícil, há muito medo porque há grupos armados que defendem o governo. Fazemos assembleias de cidadãos um dia numa casa e outro noutra. As marchas convocam-se de um dia para outro, para evitar que os ‘coletivos’ (grupos armados) saibam e atemorizem as pessoas”, disse fonte da oposição.

Entre os afetos ao Governo, uma militante do Partido Socialista Unido da Venezuela, explicou à Lusa, em La Campiña, que as manifestações “em apoio da revolução, em apoio às instituições e pela paz” são coordenadas pela estrutura partidária e que as instruções são enviadas pelo “Comité de Propaganda e Agitação”, às Unidades de Batalha Hugo Chávez.

“Nos organismos públicos há preparativos antecipados, principalmente quando chegam companheiros do interior para Caracas, porque há que garantir-lhes transporte e alimentação”, disse.

Por outro lado, precisou que “muitas vezes a segurança é reforçada porque há compatriotas importantes, líderes revolucionários, principalmente quando o presidente Nicolás Maduro se apresenta, porque é preciso estar atentos aos ataques da direita que quer voltar ao poder e está em guerra constante contra o país”, salientou.

O impasse no país tem-se verificado nas últimas semanas, depois de a oposição ter mobilizado milhares de pessoas em protesto contra a centralização económica do governo que tem condicionado a venda livre de bens de consumo e imposto novas regras no câmbio monetário, aumentando o mercado negro do dólar.

/Lusa

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