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KPMG detectou esquema de obrigações próprias do BES que gerou perdas de 1,2 mil milhões

Joanjo Aguar Matoses / Flickr

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A KPMG Portugal detetou um esquema de compra de obrigações próprias do BES através do Panamá que serviu para financiar empresas do GES, com impacto de 1,2 mil milhões de euros, já depois do fecho das contas do primeiro semestre.

“A 21 de julho, reunimos com a CMVM, Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, e manifestámos as nossas preocupações com as operações realizadas através das chamadas séries comerciais”, revelou hoje no parlamento o presidente da KPMG Portugal, Sikander Sattar.

Ao longo da primeira metade do ano, e já depois de terem sido detetadas irregularidades graves nas contas da Espírito Santo International, ‘holding’ de topo do Grupo Espírito Santo, o Banco Espírito Santo emitiu obrigações de longo prazo através da sua sucursal no Luxemburgo, que foram adquiridas pelo Espírito Santo Bank Panamá.

O objetivo deste esquema foi financiar o GES com dinheiro de clientes do BES, mas as operações trouxeram “perdas para o banco”, realçou Sattar.

Estes títulos foram depois vendidos, “nos dias seguintes, com mais-valias, que poderiam ter sido apropriadas pelo ES Bank Panamá num total superior a 700 milhões de euros”, relatou.

“Estas mais-valias não foram refletidas nas contas, pelo que não foram absorvidas pelo ES Bank Panamá”, assinalou o responsável.

Esta foi uma das questões de “natureza complexa” a que Sattar se referiu perante os deputados, apontando para as diferentes jurisdições em que as operações foram feitas.

No mesmo dia em que reuniu com a CMVM, a 21 de julho, a KPMG Portugal solicitou informação ao Espírito Santo Financial Group, que detinha o ES Bank Panamá.

E do ESFG a auditora recebeu a confirmação de que “estas mais-valias não foram refletidas nas contas, pelo que não foram absorvidas pelo ES Bank Panamá”, adiantou.

No dia 23 de julho, a KPMG Portugal reuniu com o Banco de Portugal e “reiterou a situação detetada e a verba de 700 milhões de euros apurada até então”, disse Sattar.

No dia seguinte, em reunião com a administração do BES, na altura liderado por Vítor Bento, a auditora alertou que “o valor a provisionar poderia ultrapassar largamente os 700 milhões de euros”, acrescentou o responsável.

No fim de semana de 26 e 27 de julho, “foi quantificado o valor global do ajustamento em 1,2 mil milhões de euros”, sublinhou o líder da KPMG Portugal.

A 28 de julho, houve uma reunião de manhã com o Banco de Portugal e, à tarde, numa reunião com o BES, “foram discutidos e comentados os resultados do semestre que seriam divulgados ao mercado”.

Depois, a 29 de julho, numa reunião com a CMVM, “também foram transmitidas as mesmas conclusões”, assinalou.

No dia 30 de julho, na reunião do Conselho de Administração do BES, as contas foram aprovadas por unanimidade, “sem intervenção dos novos administradores entretanto nomeados”, realçou, referindo-se ao presidente Vítor Bento, ao vice-presidente José Honório e ao administrador financeiro João Moreira Rato.

As imparidades de 1,2 mil milhões de euros foram contabilizadas, resultando nos prejuízos históricos de 3,6 mil milhões de euros, que colocaram em causa o cumprimento dos rácios mínimos de capital e ditaram a intervenção do Banco de Portugal.

/Lusa

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