Japão pede contenção no primeiro verão sem energia nuclear

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O Japão lançou este mês uma campanha de racionamento de energia elétrica, no primeiro verão sem a participação das centrais nucleares na matriz energética do país.

Pela primeira vez em quase meio século, nenhuma das 54 centrais nucleares do país está em funcionamento.

O governo não impôs nenhuma meta de economia em termos quantitativos, mas tem pedido às pessoas que evitem o desperdício de energia “na medida do possível” nos meses de julho a setembro, principalmente das 9h às 20h nos dias úteis, quando o consumo costuma a aumentar por causa do calor.

As autoridades sugerem medidas simples no dia a dia, como programar o ar-condicionado.

Este será o quarto ano seguido – ou seja, desde o terramoto seguido de tsunami de 2011 que destruiu o reator nuclear de Fukushima e obrigou o fechamento de outras usinas – em que o governo pede um esforço da população na economia de energia.

Nos três anos anteriores não houve nenhum grande problema, mas o governo já indicou que quer reativar as usinas no futuro.

Cerca de 80% da energia consumida este verão no Japão será proveniente de centrais termoelétricas.

Segundo um levantamento feito pelo governo, cerca de 20% destas centrais estão em operação há mais de 40 anos, correndo o risco de sofrer algum tipo de sobrecarga ou mesmo colapso.

Para piorar o cenário, de acordo com a Agência de Meteorologia do Japão, existe a possiblidade de uma zona de alta pressão atmosférica no Oceano Pacífico causar temperaturas mais altas do que a média no mês de agosto.

Centrais nucleares

Após o desastre de 2011, o Japão tinha desativado quase todas as centrais nucleares do país.

A última que continuava em funcionamento era a planta de Ohi, na província de Fukui, que foi desativada em setembro do ano passado.

Em maio deste ano, o Tribunal de Fukui decidiu não permitir a retomada das operações dos dois reatores.

“Esta é uma decisão histórica, que dá voz a muitos moradores das proximidades de centrais nucleares, que antes não eram ouvidos”, disse a conselheira municipal Harumi Kondaiji, de Tsuruga (Fukui), cidade localizada a 60 quilómetros da usina de Ohi.

Emissões de CO2

Mas o governo do primeiro-ministro Shinzo Abe cita o alto custo da importação de hidrocarbonetos e o aumento das emissões de gás carbónico como fortes argumentos para defender a reativação de algumas centrais.

Entretanto, ativistas como Hisayo Takada, da Greenpeace Japan, acreditam que o encerramento das centrais nucleares tem um impacto pouco significativo sobre as emissões de CO2. “O aumento das emissões após o desastre de Fukushima tem sido surpreendentemente moderado”.

Para a Greenpeace, o paradigma emissões vs energia nuclear é uma falsa dicotomia.

“A quota global de emissões de CO2 do Japão proveniente da geração de energia é de cerca de 30%, o que significa que 70% das emissões não tem nada que ver com a questão nuclear, mas com problemas ligados a transporte, aquecimento etc”, explicou Hisayo.

Entre as ações propostas pela organização para substituir o uso da energia nuclear estão a eliminação gradual de subsídios para combustíveis fósseis e para a produção de energia nuclear, a introdução de taxas adicionais para grandes poluidores e o estabelecimento de metas para o uso e desenvolvimento de energias renováveis.

ZAP / BBC

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