Investigadores portugueses encontram novos marcadores para a doença obsessivo-compulsiva

Investigadores da Universidade do Minho descobriram como o stress pode influenciar ou agravar a doença obsessivo-compulsiva, que afeta 4,4% da população portuguesa – 2% no mundo – e é das que mais dias de vida saudável perdidos representa.

Talvez conheça pessoas que, repetidamente, lavam as mãos, verificam a porta trancada, põem coisas simetricamente ou acumulam objetos que não precisam. E, embora aceitem que estes gestos são desnecessários ou absurdos, repetem-nos na mesma, para aliviar a ansiedade.

Uma equipa do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) da Universidade do Minho e do Centro Clínico Académico – uma parceria da UMinho com o Hospital de Braga – está a contribuir para desenvolver terapêuticas que reduzam os sintomas e o sofrimento destes doentes.

Os investigadores Pedro Morgado, Paulo Marques, José Miguel Soares, João Cerqueira e Nuno Sousa descobriram como o stress pode influenciar ou agravar a doença e como se alteram os mecanismos de resposta do paciente perante o stress.

Para tal, os cientistas associaram um marcador biológico – o cortisol – e um marcador psicológico – escala do stress percebido. Os níveis elevados de cortisol e stress percebido correlacionaram-se com a gravidade da doença, nomeadamente com o seu componente obsessivo.

A equipa encontrou diferenças na ativação de algumas áreas do cérebro dos doentes, como o córtex orbitofrontal e a amígdala, em comparação com voluntários saudáveis.

“Estes dados são um contributo valioso para a investigação e desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas”, diz Pedro Morgado, que dedicou o doutoramento ao tema.

A primeira parte do trabalho em curso foi dos dez artigos mais lidos do ano na revista Frontiers in Psichiatry e a segunda parte foi premiada como melhor poster no 5º Curso Avançado de Psicofarmacoterapia, em Atenas, Grécia, e como melhor comunicação no III Fórum Neurociências Janssen, em Lisboa.

60% dos doentes melhoram após tratamento

O transtorno obsessivo-compulsivo é um dos diagnósticos psiquiátricos mais frequentes.

Caracteriza-se por pensamentos repetidos e intrusivos que causam ansiedade (obsessões) e provocam a necessidade de ações repetidas para aliviar o sofrimento (compulsões). Manifesta-se em todas as idades, sobretudo em adultos jovens, e afeta igualmente homens e mulheres.

A Organização Mundial da Saúde considera-a uma das dez patologias mais incapacitantes na redução da qualidade de vida e dos rendimentos.

Estima-se que só um terço dos pacientes receba tratamento farmacológico adequado, refere Pedro Morgado. O desconhecimento e o estigma associado também diminuem a procura de ajuda especializada.

Entre os que procuram ajuda, 60% dos doentes melhoram após tratamento, que pode envolver meios psicofarmacológicos, psicoterapêuticos ou, em casos graves, terapêuticas físicas (estimulação cerebral profunda). No Hospital de Braga funciona uma consulta especializada no diagnóstico e no tratamento das perturbações do espectro obsessivo-compulsivo.

CiênciaHoje

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