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Human Rights Watch denuncia indícios de ataque com gás cloro na Síria

Alejandro Mejía Greene / Flickr

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A Human Rights Watch (HRW) considerou hoje existirem “fortes indícios” de que o Governo sírio utilizou gás cloro em três cidades, em meados de abril, violando o tratado assinado sobre o uso de armas químicas.

“Há fortes indícios de que helicópteros do Governo sírio lançaram bombas com botijas com gás cloro em três cidades no norte da Síria, em meados de abril”, refere a organização de defesa de direitos humanos.

A HRW, com sede em Nova Iorque, cita entrevistas com testemunhas e pessoal médico, apoiando-se ainda em vídeos dos ataques e fotografias dos restos dos barris explosivos.

Médicos que prestaram assistência às vítimas indicaram que pelo menos 11 pessoas foram mortas nos ataques, tendo sido observados “sintomas consistentes com os da exposição ao cloro” em cerca de meio milhar de pessoas”, indicou a organização.

A HRW documenta ataques nas cidades de Kafr Zita, em Hama, a 11 e 18 de abril, em Al-Temana, em Idlib, a 13 de abril, e em Telmans, também na província de Idlib a 21 de abril.

As três áreas estão sob controlo dos rebeldes.

Fontes da oposição denunciaram diversos ataques perpetrados pelo Governo com recurso a gás cloro (irritante das vias respiratórias), tendo a televisão estatal síria dado conta de um deles (o de Kafr Zita), mas atribuiu-o ao grupo grupo Al-Nusra Front, ligado à Al-Qaeda.

Ativistas da oposição indicaram que o cloro foi lançado através de barris-bomba lançados pelos helicópteros, dos quais apenas o governo dispõe.

A HRW referiu que um vídeo dos restos dos barris encontrados no local dos ataques mostra cilindros com o código CL2 – o símbolo do gás cloro.

A organização reconhece, porém, não ter podido confirmar de forma independente que os cilindros patentes no vídeo foram embutidos em barris-bomba lançados pelos helicópteros”.

Contudo, a HRW ressalva ser pouco provável que as imagens tenham sido encenadas ou que o gás cloro tenha sido adicionado aos barris, citando os sintomas relatados pelos médicos e testemunhas.

“O aparente uso de gás cloro como arma – já para não mencionar que visavam civis – é uma clara violação da lei internacional“, disse Nadim Houry, vice-diretor da HRW para o Médio Oriente e Norte de África.

“Esta é mais uma razão para o Conselho de Segurança da ONU levar a situação na Síria ao Tribunal Penal Internacional”, frisa.

A França propôs, esta segunda-feira, ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que o Tribunal Penal Internacional (TPI) investigue os crimes de guerra cometidos na Síria pelas forças do regime e também pela oposição.

Os diplomatas franceses informaram que entregaram um projeto de resolução com a intenção aos outros 14 membros do órgão, que podem começar a discuti-lo já esta quarta-feira e votá-lo na próxima semana.

Como a Síria não é membro do TPI, é precisa imperativamente uma decisão do Conselho de Segurança para que o TPI possa investigar os crimes cometidos no território sírio.

Esta investigação tem sido reclamada por várias vezes pela alta-comissária da ONU para os Direitos do Homem, Navi Pillay.

A Síria subscreveu a Convenção sobre Armas Químicas no ano passado, como parte do acordo para a entrega do seu arsenal, depois de ter sido acusada de utilizar gás sarin nos subúrbios de Damasco.

Possuir cloro não constitui uma violação ao tratado, mas usar o gás como arma sim.

A Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) disse que vai enviar uma equipa para investigar as alegações de que foi utilizado cloro em ataques na Síria.

O conflito na Síria já fez mais de 150.000 mortos e milhões de deslocados e refugiados desde março de 2011.

/Lusa

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