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Hiperatividade pode afetar ADN e reduzir tempo de vida das mães

A hiperatividade pode afetar o ADN e surgimento de doenças em crianças e seus familiares, aumentando o risco de envelhecimento precoce e, consequentemente, diminuição de tempo de vida, refere um estudo hoje divulgado por investigadores brasileiros.

Investigadores do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), demonstraram que os transtornos psiquiátricos, como o défice de atenção/hiperatividade – chamados ADHD ou TDAH, “geram um grande impacto emocional nas famílias”.

A pesquisa identificou que crianças com hiperatividade e as respetivas mães possuem telómeros reduzidos. Os telómeros são estruturas localizados na ponta dos cromossomas, impedindo a sua deterioração, e servem como marcadores biológicos para estimativa da esperança de vida.

Os investigadores garantem que os telómeros se desgastam com o tempo ou por fatores externos como o stress, levando ao envelhecimento e o surgimento de doenças, pois “quanto menor o telómero, menor a ‘expectativa de vida biológica'”.

No estudo, publicado na revista científica Frontiers of Molecular Neuroscience, foram analisados os materiais genéticos dos progenitores e de 61 crianças, entre os seis e os 16 anos, diagnosticadas com hiperatividade.

Mesmo entre as crianças que ainda estão no início da vida, os pesquisadores observaram telómeros reduzidos. Mas a contração dessas estruturas foi vista apenas nas mães e filhos, e não nos pais.

Os pesquisadores acreditam que “o fenómeno se deve ao stress gerado pela doença para a criança e para mãe, que na maioria dos casos é a principal responsável pelo cuidado dos filhos”.

De acordo com os cientistas, “o TDAH geralmente aparece na infância e as crianças com este transtorno apresentam desatenção, inquietude e impulsividade que geram prejuízos no seu dia-a-dia e nas pessoas do entorno”.

O neuropsiquiatra Paulo Mattos, autor do estudo e investigador do IDOR e da UFRJ, referiu que “quando as pessoas pensam em transtornos comportamentais em criança, pensam logo na componente psicológica e nos impactos sociais que o transtorno geral”.

“Isso tudo ocorre. Mas o que mostramos pela primeira vez é que os impactos são mais profundos, são biológicos e afetam o ADN”, assegurou Paulo Mattos.

De acordo com os cientistas brasileiros, além de estar ligado a complicações de saúde, o comprimento dos telómeros “é altamente hereditário”, até porque “pais e mães com telómeros mais curtos passam essas características para seus filhos”, o que significa que as crianças com défice de atenção, no futuro, podem ter filhos com telómeros reduzidos.

Os investigadores observaram ainda que a hiperatividade é a principal característica do TDAH relacionada ao encurtamento os telómeros, até porque o TDAH manifesta-se basicamente de dois modos: com sintomas de hiperatividade e de falta de atenção.

Na amostra estudada, os investigadores identificaram uma forte correlação entre as crianças com sintomas de hiperatividade e o encurtamento dos telómeros.

“Isso faz sentido porque é a hiperatividade que dá dor de cabeça na família“, comentou Mattos, acrescentando que “geralmente, é a hiperatividade que leva os pais a procurarem o tratamento para o TDAH”.

O estudo chama atenção ainda para a importância de investir no tratamento logo na infância para prevenir um maior dano ao material genético.

“Diminuir os níveis de hiperatividade e impulsividade nas crianças é importante para elas e para suas mães, e isso pode ser realizado com uma série de técnicas comportamentais implantadas o mais precocemente possível”, explicou Débora Miranda, geneticista pediatra da UFMG e co-autora do estudo.

/Lusa

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