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Há uma tribo que só sabe contar pouco, alguns e muitos

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(dr) Edward Gibson / BBC

Um índio Pirahã a contar objectos. Muitos objectos. Ou poucos, dependendo.

Um índio Pirahã a contar objectos. Muitos objectos. Ou poucos, dependendo.

Imagine viver numa sociedade que não só não tem palavras para designar números, mas onde o próprio conceito de números é inexistente. Ou seja, uma cultura onde umdois ou três simplesmente não existem.

Assim vive o povo Pirahã, uma tribo semi-nómada que habita no vale do rio Maici, na fronteira entre os estados do Amazonas e Roraima, no norte do Brasil.

A língua falada pela tribo, o idioma pirahã, não tem palavras que sejam usadas para contar.

“Os índios Pirahã estão tão afastados da sociedade industrializada moderna quanto se pode imaginar”, diz Daniel Everett, investigador da Bentley University, em Massachusetts, nos Estados Unidos.

Everett viveu com os Pirahã como missionário, e mais tarde como investigador no campo da linguística.

Durante o período de convivência com a tribo, desenvolveu um interesse especial pela questão dos números – ou melhor, da sua ausência – na cultura deste povo.

Anteriormente, os linguistas achavam que os Pirahã tinham conceitos para umdoismuitos, algo que não é incomum em culturas desse tipo.

Mas à medida que Everett investigava de forma mais sistemática, foi-se dando conta de que estes indivíduos simplesmente não faziam contas precisas.

“Ficou claro que não tinham nenhum tipo de número”, disse o investigador à BBC.

Everett teve sua primeira suspeita quando observou a tribo a repartir o peixe.

“Se alguém chegava com três peixes, dois muito pequenos e um grande, o grupo referia-se ao peixe grande com a palavra que eu julgava significar dois”, explica.

“Para indicar os dois peixes pequenos, diziam uma palavra que eu achava que significava um“, conta Everett.

Isto fez com que o investigador se apercebesse de que, na realidade, os Pirahã se referem a quantidades relativas – e não exactas.

Everett confirmou a sua hipótese depois de convidar o psicólogo cognitivo Ted Gibson para visitar a comunidade Pirahã.

Gibson, invesigador no MIT, o Massachusetts Institute of Technology, nos Estados Unidos, fez uma experiência simples.

“Colocámos bobinas de fio idênticas em frente a eles, uma a uma”, explica Gibson. Os investigadores foram adicionando os objectos até terem dez bobinas.

(dr) Edward Gibson / BBC

Os Pirahã referem-se a quantidades relativas - e não exactas

Os Pirahã referem-se a quantidades relativas – e não exactas

“Pusemos uma bobina e perguntamos-lhes o que era aquilo. Eles responderam com uma palavra. Depois, colocamos mais uma e repetimos a pergunta. A resposta foi a mesma”, contou Gibson.

Cada pessoa dizia as mesmas palavras para quantificar os objectos – as que pensávamos ser um e dois.”

Então, Gibson inverteu a experiência, começando com dez bobinas e retirando uma de cada vez.

“Quando tínhamos sete bobinas, os índios começavam a usar a palavra que achávamos ser dois. E quando chegávamos a quatro bobinas, todos começavam a usar a palavra que pensávamos ser um.”

Assim, os especialistas perceberam que os Pirahã não estavam a contar – mas que os termos que usavam indicavam apenas quantidades relativas de acordo com o contexto, que pode ser muito ou pouco.

Ou seja, se tivessem dez bobinas e passassem a ter cinco, dez bobinas são muito e cinco são pouco. Mas se começassem com uma bobina e terminassem com cinco, então cinco passa a ser muito.

“Assim, os termos que a tribo possui indicam poucoalgunsmuitos. Todos relativos“, acrescentou o especialista.

ZAP / BBC

5 Comments

  1. Pois é, foi assim que os europeus foram colonizando outras regiões do mundo, se fossem mais evoluídos do que nós certamente não teríamos por lá ficado, nem tudo correu na perfeição mas imagine-se essa época mas também não há razão para ouvirmos muitas vezes atacar os colonialistas quando agora em pleno século XXI morrem muito mais milhares de seres humanos em guerras e fome e a prova temo-la à vista neste momento.

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