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Franco-portugueses convertidos ao Islão cansados de serem vistos como “terroristas”

Michal Svec / Flickr

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Luís Belo Gaspar é um franco-português pouco comum: nasceu em França, estudou em Londres, vive na Arábia Saudita e converteu-se ao Islão há quase 16 anos, depois do fervor da catequese, do interesse pelo budismo “por causa dos Beatles” e da descoberta do Corão.

O engenheiro aeronáutico, de 39 anos, gostaria muito que os muçulmanos dessem uma outra imagem do Islão, mas admite que “o mundo islâmico está em muito mau estado”, a começar “pelos problemas em relação à mulher”, a passar pelo facto de “os muçulmanos não se entenderem” e a terminar com o exemplo do Afeganistão onde “pensam ser capazes de viver o Islão de há 1400 anos”.

O resultado, na sua opinião, é que “os radicais criam outros radicais que vêem o Islão como um bando de terroristas”, exemplificando com o 11 de Setembro quando a irmã lhe disse: “Hoje pensei que vocês eram todos uns terroristas. Tu é que me estás a dar uma imagem diferente do Islão.”

Em conversa com a Lusa, por skype, o português disse “ter pena” dos muçulmanos que se radicalizam e admitiu que, recentemente, foi abordado no facebook por um jovem lusodescendente de Champigny, nos arredores de Paris, “vinte anos mais novo”.

“Começou logo: ‘Irmão, vê se abres os olhos. Já não é paz e amor, acabou-se! Os franceses estão a combater-nos’ e eu disse: ‘Então se te combatem vai-te embora” e ele respondeu: ‘Eu estou aqui na Síria e no Iraque!‘. Ou seja, estava de certeza a querer ir buscar portugueses. Bloqueei-o logo!”, conta.

Para Luís Belo Gaspar, os jovens portugueses que integram as fileiras jihadistas “ou têm uma certa frustração e querem-se afirmar-se ou mal conhecem a mensagem do Islão, metem-se na internet e caem nas mãos dos radicais”.

“Se viessem para a Arábia Saudita, veriam que não somos irmãos como pensam. Como sou português e estou a viver aqui, vejo que somos todos diferentes. Aqui, um árabe vê um paquistanês não como um irmão mas como um gajo que vai limpar a estrada“, descreve.

Contacto das redes jihadistas

Outro franco-português que abraçou o Islão, pouco antes de completar 18 anos, é Issa Mendes dos Santos, filho de uma portuguesa e de um francês e residente em Chambéry, no leste de França.

O jovem, agora com 20 anos, garante que nunca foi contactado pelas redes jihadistas na internet porque “não ousam meter-se” com quem conhece o Islão. Sobre o grupo Estado Islâmico, Issa faz questão de sublinhar: “Nós condenamos os atos deles mas não nos cabe a nós justificar-nos pelos crimes que eles cometem”.

“Esses indivíduos a que chamam ‘Estado Islâmico’, no Islão chamamo-los de “khawarij” e o próprio Profeta chamou-os de ‘cães do inferno’. Trata-se da primeira seita do Islão. Para eles, se um muçulmano comete um pecado é considerado como um infiel e eles sentem que o podem matar. Mas nós rejeitamo-los desde os primeiros anos do Islão”, acrescenta.

O jovem lamenta, por isso, uma certa islamofobia em França que se sente “quando se procura um trabalho, quando se trata de papelada ou através dos ataques a mulheres que usam o véu”. Por outro lado, Issa Mendes dos Santos lamenta que “as pessoas confundam Árabes e Muçulmanos” e “culpem o Islão por certos comportamentos dos árabes nos bairros desfavorecidos”.

/Lusa

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