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Francisco descentraliza Igreja com cardeais de países “inesperados”

Catholic Church England and Wales / Flickr

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Alguns teólogos portugueses realçaram este domingo a novidade de o papa Francisco ter nomeado cardeais em países inesperados, africanos e asiáticos, cumprindo o seu objetivo de ter uma Igreja descentralizada e com representação de regiões onde cresce o número de católicos.

O papa Francisco anunciou este domingo a elevação 15 novos cardeais eleitores, entre os quais Manuel Clemente, o patriarca de Lisboa, e de outros cinco não-eleitores, representando alguns países que nunca tiveram cardeal.

O papa destacou que os 15 novos cardeais são “procedentes de 14 nações de todos os continentes” e que “representam o vínculo inseparável entre a Igreja de Roma e as Igrejas particulares presentes no mundo”.

Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa

A escolha do patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, para cardeal, não surpreendeu os três teólogos ouvidos pela agência Lusa que referem ser habitual os arcebispos passarem a cardeais.

Anselmo Borges, padre e professor de Filosofia da Universiadde de Coimbra, defendeu que, “por ser cardeal-patriarca de Lisboa, está no centro do poder” e agora “espera-se que tenha mais responsabilidades em relação ao poder político no sentido de chamar a atençao para uma política mais voltada para justiça social e para o bem comum, denunciando a corrução, a cumplicidade entre os poderes políticos e os poderes económicos”.

No entanto, realçou, “para ser crítico em relação à política ele precisa de lutar com os outros bispos por uma Igreja em Portugal mais livre, mais independente ela própria dos poderes económicos e políticos”.

Com a nomeação de Manuel Clemente e do bispo cabo-verdiano Arlindo Gomes Furtado, sobe para sete o número de cardeais lusófonos com direito de voto na escolha do líder da Igreja Católica.

Além destes, existem ainda outros 10 cardeais lusófonos que pertencem ao Colégio, sem direito de voto por terem mais de 80 anos, embora, tal como os restantes, assistam o papa nas suas decisões.

Novos Cardeais em regiões em que a Igreja cresce

Quanto à decisão do papa Francisco na seleção dos cardeais, “há várias coisas de novo, só há um cardeal da Cúria e, para alguns inesperadamente, são feitos cardeais” outros, disse Anselmo Borges.

O papa Francisco tem dito que queria “uma Igreja pobre para os pobres, portanto foi, desta vez, às periferias, a países com estados periféricos do ponto de vista católico, com um número de católicos que não é grande, para chamar atenção de que quer uma Igreja, de facto pobre, para os pobres”, apontou Anselmo Borges.

Por outro lado, o pontífice “quer uma Igreja verdadeiramente descentralizada, que não pode estar apenas centrada na Europa”, já que “se a Igreja é uma realidade global, então deve estar representada no conselho, uma vez que os cardeais são conselheiros do papa”, e na eleição do próximo papa, disse ainda o professor de Filosofia.

E realçou o facto de existirem entre estes cardeais pelo menos três da Ásia, região que tem tido a atenção do papa, segundo Anselmo Borges, “com os olhos postos na China”.

Também para o missionário Fernando Ventura, “aquilo que o papa está a fazer é dar representatividade maior ou dar maior número de assentos no conclave às zonas geográficas onde a Igreja católica está em crescimento”.

No mesmo sentido vai o comentário do teólogo de Carreira das Neves, que referiu ter o papa Francisco “uma vocação mais universal, menos eurocentrista e a Igreja da Europa está muito adormecida e envelhecida”.

Cardeais inesperados

Quanto às nomeações dos cardeais de Cabo Verde e Moçambique, Carreira das Neves realçou a percentagem de católicos existentes nestes países, vertente igualmente referida por Fernando Ventura para quem reforçar a presença de África no conclave “tem todo o sentido”.

Fernando Ventura disse ter ficado “surpreendido com o nome de Júlio Duarte Langa, de Moçambique, mas não espantado”, ou seja, “esperava que fosse o atual arcebispo de Maputo a ser feito cardeal”, pois habitualmente é o bispo titular da arquidiocese que é escolhido.

No entanto, “Duarte Langa vai fazer um trabalho excelente, como faria naturalmente Francisco Chimoio“, o atual arcebispo de Maputo.

/Lusa

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