Exame de sangue é capaz de prever Alzheimer em pessoas saudáveis

Um exame de sangue pode prever com precisão o aparecimento da doença de Alzheimer, de acordo com investigadores americanos.

Os cientistas mostraram que alguns testes para calcular o nível de 10 gorduras no sangue permitiria detectar – com 90% de precisão – o risco de uma pessoa desenvolver a doença nos três anos seguintes.

Os resultados, publicados na revista Nature Medicine, passarão agora por mais testes clínicos. Os especialistas dizem que os resultados ainda precisam ser confirmados, mas que tal exame seria “um verdadeiro passo em frente.”

Há 44 milhões de pessoas que vivem com demência em todo o mundo, um número que deve triplicar até 2050.

A doença ataca o cérebro “silenciosamente” durante mais de uma década antes que os sintomas surjam. Os médicos acreditam que tratamentos com remédios estão a falhar porque os pacientes estão a ser submetidos a estes demasiado tarde.

É por isso que a descoberta de um teste que prevê o risco de demência é uma das principais prioridades neste campo de investigação.

O que é a demência?

• É um termo vasto que descreve cerca de 100 doenças em que ocorre a morte de células cerebrais em grande escala
• Todas as formas de demência danificam a memória, a linguagem, a agilidade mental, a compreensão e o julgamento
• A Doença de Alzheimer é a forma mais comum, afetando 62% dos que vivem com demência
• Torna-se pior ao longo do tempo, até que o doente se torne completamente dependente de cuidados
• É uma doença incurável

Pistas no sangue

Cientistas da Universidade de Georgetown, em Washington D.C., analisaram amostras de sangue de 525 pessoas com idade superior a 70 anos, como parte de um estudo de cinco anos.

Ao comparar os exames de 53 pessoas que desenvolveram Alzheimer, ou algum comprometimento cognitivo leve, com os de 53 pessoas que permaneceram mentalmente ágeis, os investigadores encontraram diferenças nos níveis desses 10 lipídos, ou gorduras, entre os dois grupos.

Quando a equipa olhou as outras amostras de sangue, esses 10 marcadores de Alzheimer permitiam prever em quem era provável que o declínio mental surgisse nos anos seguintes.

Howard Federoff, professor de neurologia na Universidade de Georgetown, disse à BBC que “há uma grande necessidade de um exame como este. Mas temos de testar com um maior número de pessoas antes que possa ser utilizado na prática clínica.”

Agora, os cientistas estão a investigar se o exame funciona para prever a doença com ainda mais antecedência do que três anos. Não está claro exatamente o que tem causado as mudanças de gorduras no sangue, mas poderia ser um resíduo das primeiras mudanças no cérebro.

Desafios éticos

Um teste bem sucedido para a doença de Alzheimer pode transformar a investigação médica e permitir testar tratamentos com medicamentos em um estágio muito precoce da doença.

Segundo Federoff, abrandar o ritmo da doença pode ter um impacto enorme: “Mesmo um pequeno atraso de sintomas já terá um benefício económico tremendo, ainda que apenas em termos do custo do atendimento.”

Simon Ridley, médico de uma ONG que investiga a doença no Reino Unido, disse que os resultados foram encorajadores.

“Para testar a eficácia de potenciais novos medicamentos, é importante ser capaz de recrutar pessoas para ensaios clínicos nas fases iniciais da doença, quando esses tratamentos são potencialmente mais eficazes”.

Doug Brown, médico da Alzheimer’s Society, outra instituição britânica especializada no tema, disse que o teste poderia representar desafios éticos.

“Se isso se desenvolver no futuro, deve ser dada às pessoas a possibilidade de escolha sobre se gostariam de saber, compreendendo plenamente as implicações”.

ZAP / BBC