Estudante faz descoberta que pode salvar atletas com problemas no coração

BBC

Henry Roth, o rapaz de 18 anos pretende estudar medicina depois da sua descoberta

Henry Roth, o rapaz de 18 anos pretende estudar medicina depois da sua descoberta

Um estudante de 18 anos no Reino Unido fez uma descoberta científica que pode ajudar a salvar as vidas de atletas negros portadores de problemas cardíacos não diagnosticados.

Henry Roth conseguiu provar que são necessários exames diferentes para detectar a cardiomiopatia hipertrófica em atletas brancos e negros, algo que não é feito actualmente.

A cardiomiopatia hipertrófica é um problema hereditário e causa o aumento do músculo cardíaco, o que aumenta o risco de uma paragem cardíaca repentina.

O estudante decidiu investigar o problema depois da morte de um tio, com apenas 21 anos, devido ao problema.

O projecto de pesquisa do estudante surgiu a partir de uma conversa com um cardiologista do Hospital St. George, em Londres, que lhe fez exames no coração para verificar se ele também teria a doença.

Os dois conversaram sobre a razão pela qual os atletas negros têm uma maior probabilidade de ter o problema.

Sem diagnóstico

A cardiomiopatia hipertrófica leva ao aumento do músculo cardíaco. Como os exercícios intensos podem também aumentar o músculo cardíaco, muitos atletas não são diagnosticados.

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Miklos Fehér morreu há 10 anos

Miklos Fehér morreu há 10 anos

O caso mais conhecido de cardiomiopatia hipertrófica em Portugal é o de Miklos Fehér, talentoso médio do Benfica, que morreu em campo há 10 anos num jogo dos encarnados em Guimarães.

Nos instantes finais da partida, a 25 de janeiro de 2004, o avançado húngaro, quando nada o fazia esperar, debruçou-se e caiu inanimado.

No momento todos perceberam a gravidade da situação, com colegas e adversários em pânico enquanto as equipas médicas tentavam a reanimação, mas Fehér viria a ser declarado morto às 23:10 do mesmo dia, já no hospital.

Um exemplo com final feliz foi o jogador Fabrice Muamba, do Bolton, que desmaiou em campo em 2012 com uma paragem cardíaca, muito embora fosse apontado como um dos jogadores em melhor forma do clube.

Muamba esteve muito tempo em reanimação, até que os médicos conseguiram finalmente que o seu coração voltasse a funcionar. Esteve morto durante 78 minutos.

Um dos casos mais conhecidos de morte por cardiomiopatia hipertrófica é o de Marc-Viven Foe, jogador do Mancherster City, internacional dos Camarões, que morreu durante um jogo da sua selecção em 2003.

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Marc-Vivien Foe morreu em campo em 2012 num jogo pela selecção dos Camarões

Marc-Vivien Foe morreu em campo em 2012 num jogo pela selecção dos Camarões

Outra forma de detectar esta doença é através da medição dos níveis máximos de consumo de oxigénio dos atletas durante exercícios cardiovasculares.

Depois de estudar atletas profissionais, Henry Roth descobriu que a média do nível máximo de consumo de oxigénio é diferente entre atletas brancos e negros, quando os médicos usavam a mesma medição para diagnosticar ambos.

Dessa forma, atletas negros portadores da doença podiam não estar a ser diagnosticados.

Roth afirmou que não acreditava que a diferença entre atletas brancos e negros ainda não tivesse sido notada.

“Francamente, fiquei chocado. Mas são necessárias pessoas chocadas para alguma coisa ser feita. Fazer algo acontecer e não aceitar apenas as mesmas práticas de sempre”, diz Roth à BBC.

Histórico familiar

“Henry tem uma sede por pesquisas do coração, motivada pela experiência da sua família com a morte súbita (por doença) cardíaca”, afirmou o cardiologista do Hospital St. George Sanjay Sharma, que ajudou o estudante.

“Henry quer garantir que outras famílias não passem pelo mesmo, e estou muito animado pela pesquisa que realizou comigo e com os meus colegas no Hospital St. George. O trabalho de Henry tem o potencial de mudar a forma como examinamos atletas para (detectar) cardiomiopatia hipertrófica”, acrescentou.

A investigalção de Roth foi finalista no Concurso Nacional de Ciência e Engenharia da Grã-Bretanha.

Na Grã-Bretanha, uma em cada 500 pessoas tem o problema, apesar de a doença não afectar a vida da maioria dos pacientes.

Um avião no chão com um problema mecânico não é perigoso, mas, mal começa a voar, torna-se perigoso. Assim que os atletas vão para para o campo, há a possibilidade de terem uma arritmia (batimento cardíaco irregular)”, explicou Roth.

O estudante vai agora voltar ao Hospital St. George para continuar as suas pesquisas antes de tirar um ano para viajar.

Quando regressar, Henry pretende estudar medicina.

ZAP / BBC

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