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Espanha à procura dos restos mortais de Cervantes, o pai de Dom Quixote

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Don Quixote por Philippe Druillet (1985)

Don Quixote por Philippe Druillet (1985)

Quatro séculos após a morte do ilustre autor de Dom Quixote, Miguel de Cervantes, o município de Madrid decidiu financiar investigações visando encontrar os seus restos mortais, para “reparar uma grande dívida ao príncipe das letras de Espanha”.

“Encontrar o túmulo de Cervantes permitiria reparar uma grande dívida ao príncipe das letras de Espanha, talvez à figura originária de Espanha que marcou mais profundamente a história da humanidade”, explicou hoje o diretor-geral do Património Cultural da câmara municipal de Madrid, José Francisco García, citado pela agência de notícias francesa, AFP.

Publicado em duas partes, em 1605 e 1615, na primeira edição, Dom Quixote, a obra-prima de Cervantes, é muitas vezes considerado o primeiro romance moderno e é um clássico da literatura ocidental, sendo regularmente classificado como um dos melhores romances alguma vez escritos.

“Dom Quixote teve um impacto e uma influência universais [e] para a cidade de Madrid, encontrar os seus restos mortais seria um dos mais importantes projetos culturais que poderíamos desejar neste momento”, disse o responsável, acrescentando: “Mas devemos manter-nos prudentes enquanto aguardamos resultados dos primeiros estudos”.

Nascido em 1547, na velha cidade universitária de Alcalá de Henares, perto de Madrid, o escritor passou os últimos anos da vida num bairro do centro da capital espanhola, hoje rebatizado “Bairro das Letras”, em homenagem aos seus célebres habitantes: Cervantes, mas também Lope de Vega, e os grandes rivais literários do Século de Ouro, Francisco de Quevedo e Luis de Góngora.

O autor de Dom Quixote foi sepultado neste bairro em abril de 1616, na igreja da Trindade, mas ignora-se o local exato da sepultura, perdido na história e nas obras de ampliação da igreja e do convento contíguo, com fachadas de tijolos vermelhos.

Durante anos, pareceu difícil fazer escavações no local, onde residem ainda religiosas, e abrir às cegas buracos numa igreja classificada como património cultural da cidade desde 1921.

“A tecnologia avançou suficientemente para que nos seja garantido agora que um estudo feito com radar de penetração pode determinar com bastante precisão onde estão enterrados restos humanos”, explicou José Francisco García.

A câmara de Madrid consagrou uma verba de entre 12.000 e 14.000 euros à primeira fase de análise histórica e depois às pesquisas com radar de penetração, que deverão começar “nas próximas semanas”.

As escavações só serão feitas se os investigadores conseguirem localizar restos humanos numa área claramente definida.

Pelo menos outras duas pessoas foram enterradas no mesmo local, de acordo com Fernando de Prado, que narrou, no seu relato, o enterro de Cervantes, após a sua morte, datada de 22 ou 23 de abril de 1616, segundo os historiadores.

“Embrulhado numa tela da Ordem Terceira Franciscana, na qual tinha ingressado pouco antes, num modesto caixão, com as mãos sobre o peito, segurando um crucifixo em madeira, e com o rosto descoberto (…), foi conduzido às suas exéquias no sábado 23 de abril, naquele que era, sem dúvida, o convento mais modesto de Madrid”, escreveu Fernando de Prado.

Para os antropólogos, o trabalho deverá, em seguida, ser fácil: “Dizem-nos que poderemos determinar de forma fiável se os restos pertencem a Miguel de Cervantes devido às características especiais do personagem”, alcunhado “o maneta de Lepanto”, depois de ter sido ferido no peito e perdido a mobilidade da mão esquerda na lendária batalha naval de Lepanto (1571), ganha pela Santa Aliança aos otomanos.

“Cervantes não pôde utilizar essa mão durante 45 anos. Um antropólogo pode identificar este tipo de lesão óssea que servirá de prova para a sua identificação”, sublinhou o historiador.

/Lusa

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