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Elefantezinho abraça peixe afogado

Pete Souza / WhiteHouse

Michelle e Barack Obama abraçam-se (foto: Pete Souza / WhiteHouse)

Michelle e Barack Obama abraçam-se (foto: Pete Souza / WhiteHouse)

As expressões de carinho entre namorados têm origens curiosas em todo o mundo. A cantora e ex-primeira-dama francesa Carla Bruni chama “chouchou” ao marido, o ex-presidente Nicolas Sarkozy.  Samantha Cameron chama “bebé” ao primeiro-ministro britânico David Cameron. E a primeira-dama americana Michelle Obama descreveu a foto acima, a mais partilhada de todos os tempos no Twitter, com a frase: “Este é o meu docinho a abraçar-me“.

Algumas expressões de afecto podem ser usadas em muitas línguas ─ “bebé”, “anjo” e “querido(a)”, por exemplo. Mas muitas expressões perdem significado na tradução literal. Se lhe chamar “mel”, um francês ou francesa achará que está a chamar-lhe sentimental.

E como reagiria você se alguém lhe dissesse que é o seu repolho, pulga ou elefantezinho?

Veja abaixo 10 exemplos de expressões de carinho que nos parecem estranhas: a linguagem universal do amor em metáforas locais, que vão desde a culinária até ao reino animal.

 

1. Repolhinho
Petit chou (França)

“Chou” (repolho) é o equivalente francês de “docinho”. A palavra dá a ideia de algo pequeno e arredondado e também é usada para descrever as massas usadas em pratos da confeitaria francesa, como os profiteroles. “Chou” também dá a ideia de uma cabeça de criança. Ao longo dos anos, muitas crianças francesas ouviram dos pais que os meninos nasciam em repolhos e as meninas, em rosas. Também é possível dobrá-la: “chouchou” é usada no sentido de “querido(a)”

 

2. Abóborazinha
Chuchuzinho (Brasil)

“Chuchu” é um legume um tanto insosso – mas a semelhança da palavra com o “chouchou” sugere que o apelido brasileiro para o ser amado derivou do francês, mesmo que se refira a um vegetal diferente.

 

3. Ovo com olhos
Tamago gata no kao (Japão)

No Japão, as mulheres são frequentemente chamadas de “ovo com olhos” pelos seus amantes. É um grande elogio ─ ter um rosto oval é considerado muito atraente na cultura japonesa. É possível observar o fascínio pelos “ovos com olhos” nas pinturas tradicionais do país.

 

4. Torrão de açúcar
Terrón de azúcar (Espanha)

Assim como o “honey”, “mel” em inglês, os doces costumam transformar-se em termos carinhosos em muitas línguas. A expressão “torrão de açúcar” refere-se aos cubos de açúcar usados para adoçar o chá ou café. Aparentemente, a expressão está bem alto na escala de sentimentalismo, portanto use-a com moderação.

 

5. Fruta do meu coração
Buah hatiku (Indonésia)

Apesar de a expressão ter um uso romântico e aparecer em canções de amor e poemas, ela é mais usada atualmente para expressar afeição por crianças. Publicitários usam “fruta do meu coração” em produtos orientados para a família e especialmente jovens casais da classe média: “O melhor presente/alimento/produto para ‘a fruta do seu coração'”. A expressão também é encontrada em quase todos os livros e artigos sobre paternidade, e aparece frequentemente como nome de organizações focadas em crianças, incluindo um hospital perto de Jacarta.

 

6. Minha pulga
Ma puce (França)

“Ma puce” é o equivalente francês de “queridinho(a)” ou “amorzinho(a)” em português. Uma teoria sugere que a expressão pode ter ligação com a relação histórica entre humanos e pulgas ─ em tempos passados, remover as pulgas do outro era um cuidado dividido entre pessoas íntimas, que se dizia ser bastante agradável.

 

7. Gazela
Ghazal (Árábia Saudita)

A poesia clássica árabe é cheia de imagens de belas gazelas (uma metáfora para mulheres). Há numerosas referências às “lanças letais” do olhar de uma bela mulher. Se acreditarmos nos poetas, os caçadores (uma metáfora para homens em geral) podem morrer de amor após um simples olhar da gazela. Hoje em dia, um homem podem dizer a uma mulher que tem “olhos de gazela” (“Laki uyounul ghazal”). Isso pode significar que ele sucumbiu ao seu feitiço antes que ela ficasse enfeitiçada por ele.

 

8. Elefantezinho
Chang noi (Tailândia)

Os elefantes são os animais mais queridos do povo tailandês. Supostamente trazem boa sorte, especialmente os elefantes brancos. O símbolo do elefante pode derivar do deus hindu Ganesha, reflectindo a grande influência que a cultura indiana exerce na região. Os elefantes têm um lugar tão especial no coração dos tailandeses que se tornaram um emblema na bandeira do país. “Elefantezinho” pode ser usado afectuosamente para chamar uma criança – mas entre adultos tem uma conotação diferente.

 

9. Peixe afogado, ganso caído
Chen yu luo yan (China)

A expressão vem de um conto sobre a mulher mais bonita da história, uma mulher chamada Xi Shi. Diz-se que ela era tão bonita que quando olhou para os peixes de um lago, os peixes ficaram tão deslumbrados com a sua beleza que se esqueceram de nadar e, gradualmente, desceram para o fundo do lago. Do mesmo modo, diz-se que quando um bando de gansos voou sobre uma mulher chamada Wang Zhaojun, ficaram tão impressionados com a sua beleza que se esqueceram de bater as asas e acabaram por se precipitar para o chão. Por causa disso, até hoje, quando um jovem chinês está apaixonado por uma mulher, pode dizer-lhe que ela é tão bonita como Xi Shi ou Wang Zhaojun. Para isso, bastam quatro palavras: “Peixe afogado, ganso caído”.

 

10. Pombinho(a)
Golubchik (masc.) / golubushka (fem.) (Rússia)

O romancista e poeta russo Alexander Pushkin usou a palavra “pombinha” para se referir afectuosamente à sua velha ama nos versos de um de seus poemas mais conhecidos. Mas a ama também poderia ter usado a mesma palavra para se referir a ele, quando criança (e provavelmente usou-a).

Como expressão de carinho, a palavra aparece desde o Antigo Testamento (“Minha pomba…mostra-me teu rosto”), escrito originalmente em hebraico. A tradução eslava da Bíblia teve uma influência profunda na formação da língua russa, pelo que o uso na Rússia pode ter raízes bíblicas.

 

O amor pode tudo. E com o vocabulário da linguagem universal de expressões carinhosas, pode até fazer um elefantezinho abraçar uma pulga.

ZAP / BBC, cont. Paul Noble / Collins Dictionary

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