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Dividir a conta por igual sai sempre mais caro

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Se alguém o acusar de ser forreta por sugerir que “cada um paga a sua parte” no restaurante, fique descansado: a maioria das pessoas prefere pagar individualmente, e a verdade é que dividir por todos sai mesmo mais caro.

Trata-se de um problema já bastante estudado pelos economistas no âmbito da chamada Teoria dos Jogos, e tem mesmo um nome: o Dilema do Jantar.

Um estudo israelita publicado em 2004 no Economic Journal, da Royal Economic Society, analisou o comportamento de estudantes em diferentes situações num restaurante.

Os investigadores dividiram os participantes em grupos de seis pessoas – sempre três homens e três mulheres e apresentaram três situações: quatro grupos iriam dividir a conta por igual; em quatro grupos, cada um pagaria apenas o que consumiu; os dois restantes grupos teriam refeições gratuitas.

Os resultados não trouxeram grandes surpresas: aqueles que não iriam pagar gastaram mais dinheiro, enquanto os que iam dividir a conta por igual gastaram menos. Os que pagavam apenas o seu consumo foram os que gastaram menos.

Royal Economic Society

A distribuição dos gastos entre os participantes do estudo israelita sobre o Dilema do Jantar

A distribuição dos gastos entre os participantes do estudo israelita sobre o Unscrupulous Diner’s Dilemma

Uri Gneezy, que liderou a investigação, explica que se trata de um exemplo de “externalidade negativa – quando o comportamento de outra pessoa afeta o seu bem estar”.

Mona Chalabi, que tem uma coluna sobre estatísticas de assuntos quotidianos no site FiveThirtyEight, explica que este estudo sobre o Dilema do Jantar revela como as externalidades negativas – ou apenas a mera ameaça de uma externalidade negativa; neste caso, a suspeita de que outros consumam mais – afeta o nosso comportamento.

Os participantes dos grupos onde a conta era dividida por igual esperavam que os outros consumissem mais, e para não saírem a perder tentaram maximizar o seu proveito consumindo mais também. A conclusão: acreditar que os outros vão agir de forma egoísta faz-nos ser também egoístas.

Os investigadores apontam que 80% dos participantes tinham revelado, antes do jantar, que preferiam pagar individualmente – porque já sabiam que acabariam por pagar mais se dividissem por igual -, mas mesmo assim consumiram mais quando acharam que seria o melhor para si.

No entanto, é preciso pensar que dividir a conta por igual resolve outros custos (não financeiros) associados a pedir para pagar a fatura individualmente: a necessidade de fazer as contas uma a uma para saber quem é que deve o quê, que pode ser uma maçada com grupos grandes, além do custo social de ser o “chato” que sugere que cada um pague apenas o que consumiu – o que, comenta Mona Chalabi, nunca é muito popular, em particular quando a sugestão vem no final do jantar, quando todos já consumiram à vontade.

Há ainda a questão dos países: de acordo com Anand Damani, os alemães tendem a sugerir que cada um pague a sua parte, enquanto em Israel, nos EUA e na Índia não dividir por igual é considerado rude. Os britânicos têm outra abordagem, a de fazerem “rounds”, em que cada um paga a conta inteira à vez.

Aline Flor, ZAP //

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