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Como é que o cérebro lida com o Tinder?

Ed Yourdon / Flickr

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Responsável por oito mil milhões de ligações entre 196 países, o Tinder é a aplicação mais popular do seu género no mundo. Com 97.200 “swipes” a serem feitos por minuto, os utilizadores gastam, em média, 11 minutos por dia a olhar para perfis de outras pessoas.

Os utilizadores do Tinder entram num jogo para encontrar um parceiro potencial baseados na sua aparência: basta deslizar a foto para a direita se gostar, ou para esquerda se não gostar. Duas pessoas que gostem das fotos uma da outra são avisadas e podem entrar em contacto.

Apesar de haver casos de casais que criam relações duradouras a partir da aplicação, o Tinder parece ser mais usado para relações curtas e sem compromissos. Além disso, muitas vezes os utilizadores têm um comportamentos estranhos: por exemplo, muitas mulheres queixam-se de receber imagens não solicitadas e indesejadas de pénis de estranhos.

Os seres humanos evoluíram mais de dois milhões de anos a desenvolver o sistema cerebral mais complexo que existe no mundo, uma evolução que também nos levou a ser, em grande parte, monogâmicos. Será que estamos preparados para lidar com o anonimato da Internet e uma “oferta” tão grande de parceiros e relações passageiras?

Emoção x compromisso

Não há nada de novo em olhar fotos para decidir sobre um parceiro, explica à BBC Lucy Brown, professora na Faculdade Einstein de Medicina, em Nova Iorque, autora de vários trabalhos sobre a neurobiologia do amor romântico. A investigadora adverte, no entanto, que esta não é uma forma particularmente eficaz de escolher alguém.

O cérebro dos seres humanos está preparado para julgar as pessoas depois de vê-las “em movimento”, em vez de uma mistura de imagens fixas e mensagens num ecrã.

“É muito perigoso: não podemos dizer muito a partir de uma fotografia”, explica Brown. “O cérebro humano está configurado para recolher informações sobre a forma como alguém se move ou a forma como sorriem“, descreve.

Faz sentido, portanto, tentar conhecer o potencial parceiro pessoalmente o mais cedo possível. No entanto, mesmo depois disso, ainda há muito trabalho pela frente.

Em média, é preciso passar três anos com alguém até que esta pessoa se revele totalmente e se possa dizer que a conhecemos de facto.

Brown explica que as aplicações como o Tinder e o Happn facilitam, pelo contrário, relações fugazes. Este é um dos medos mais frequentemente expressos sobre o impacto social das aplicações para encontros: que a promessa de escolha interminável incentive as pessoas a perseguir a emoção de múltiplos engates de curto prazo em vez de apostar num compromisso de longo prazo.

O vício do “lance”

Há indícios de que ocorram mudanças químicas dramáticas dentro do cérebro durante os primeiros dias de uma relação.

Um estudo realizado pela Universidade de Pisa, na Itália, em 1999, descobriu que os níveis de serotonina no cérebro de pessoas que atravessam a fase inicial do amor romântico eram comparáveis com os níveis de pessoas com transtorno obsessivo compulsivo (TOC).

Em 2007, cientistas da Universidade de Basel, na Suíça, sugeriram que a fase inicial da paixão é comparável a hipomania – um estado de energia elevada, inibições mais baixas e uma diminuição da necessidade de sono.

Bianca Acevedo, investigadora da Universidade da Califórnia em Los Angeles, nos EUA, afirma que uma onda de dopamina – substância química que transmite sinais no cérebro – é liberada nos primeiros estágios de uma relação, o que torna as pessoas mais animadas. Este sistema de recompensa inconsciente é o mesmo ativado no caso de vícios como as drogas.

É preciso ter calma

Uma conclusão a que podemos chegar é que as aplicações de encontros não estão a tornar as pessoas avessas a compromissos.

Fugir de uma relação séria depois de um período intenso, por exemplo, é provavelmente um traço de personalidade – é, no entanto, um traço de personalidade que os namoros online privilegiam e reforçam.

Assim, se não quiser ficar eternamente às voltas com engates que não dão em nada, é melhor apostar mais na vida real, em vez da virtual.

Lucy Brown recomenda especial cautela com aplicações como o Tinder. “As pessoas podem ter três ou quatro outras pessoas com quem estão a conversar“, diz.

Nesta fase de uma relação, o início de um potencial romance, o seu cérebro fica entusiasmado, e é preciso ter em conta que a natureza está, de facto a deixá-lo um pouco fora de controlo – e decidir se é mesmo isso que deseja.

HypeScience

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