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Central nuclear junto à fronteira chumba teste da Greenpeace

Frobles / Wikimedia

Central de energia nuclear Almaraz, Cáceres (Espanha)

Central de energia nuclear Almaraz, Cáceres (Espanha)

A central nuclear espanhola de Almaraz, a mais próxima da fronteira portuguesa, chumbou num teste de resistência pedido pela Greenpeace, evidenciando a falta do mesmo tipo de válvulas que permitiu o acidente na central nuclear de Fukushima, no Japão, em março de 2011.

“Em Espanha – tal como noutros pontos da Europa – não aprendemos a lição de Fukushima. As medidas que foram tornadas obrigatórias, de maneira urgente, por causa do que se passou com Fukushima, mas não foram ainda tomadas”, disse esta segunda-feira à agência Lusa a responsável da área de Energia Nuclear da Greenpeace, Raquel Montón.

A organização ambientalista considera que a central de Almaraz (na bacia do Tejo, a pouco mais de 100km da fronteira de Portugal) “não tem válvulas de segurança para impedir uma explosão de hidrogénio, tal como não tinha Fukushima, e a sua instalação não está prevista até finais de 2016″.

“Outro dos grandes problemas que ocorreu no Japão é que não tinham sistemas de ventilação com filtragem. Quando se viram na contingência de ter de libertar a quantidade de hidrogénio que se estava a acumular e com ele a radioatividade, não havia sistemas de ventilação filtrada. Assim, tudo foi levado ao limite e quando explodiu, espalhou-se a radioatividade”, explicou Raquel Montón.

Após o incidente japonês, as autoridades e os reguladores europeus recomendaram que as centrais pusessem estes sistemas de forma urgente.

“Em Espanha não foram postos e não se está a exigir isso até ao ano 2016 ou mais tarde. Enquanto isso as centrais continuam a funcionar, incluindo a de Almaraz, que não tem sistemas de ventilação filtrada”, salientou.

Por outro lado, além de Almaraz “não dispor de medidas eficazes de gestão de acidentes para assegurar a contenção da radiatividade durante um acidente grave”, não existe uma avaliação atualizada dos riscos naturais, como por exemplo a atividade sísmica.

“A União Europeia exigiu a Espanha que fizesse uma nova caracterização sísmica, porque a que temos é muito antiga. Com base nessa nova caracterização é que seriam avaliados os riscos das centrais nucleares espanholas. Isso foi no ano de 2011 e só este ano é que se deu seguimento a essa ordem: ou seja, a nova caracterização sísmica vai começar a fazer-se em finais deste ano e não saberemos quando vai acabar”, adiantou a responsável da Greenpeace.

Para Raquel Montén, a ideia de que as centrais nucleares em Espanha são seguras quanto a possíveis terramotos não é correta, uma vez que “nem sequer se começou a estudar” o caso.

“Esta é uma das grandes deficiências”, afirmou a responsável, acrescentando que a entidade tem vindo a pedir esclarecimentos ao ministério da Indústria, Energia e Turismo desde há quatro anos.

“Até agora só temos tido falta de transparência e a falta de resposta”, disse Raquel Montón, salientando que a escolha da Central nuclear de Almaraz para ser submetida aos testes não foi casual.

“Em Espanha fez-se a análise da central de Almaraz, precisamente por porque é a que está mais próxima da fronteira com Portugal – outro país membro da União – e porque é a central nuclear em operação mais velha de Espanha“, concluiu.

As conclusões da Greenpeace constam de um relatório que a organização está a apresentar na Conferência bianual do Grupo de Reguladores Europeus de Segurança Nuclear (ENSREG), que decorre até terça-feira em Bruxelas.

Greenpeace apela a Portugal que apresente queixa

A Greenpeace apelou ainda a que Portugal se queixe junto das autoridades internacionais quanto ao que considera ser a falta de condições de segurança das centrais nucleares espanholas, assegurando que Madrid não está a informar Lisboa sobre os impactos ambientais.

“Quando se tem de dar ou renovar uma licença de exploração, a Convenção que diz respeito às declarações de impacto ambiental transfronteiriço dispõe que Espanha está obrigada a facilitar e comunicar esses estudos de impacto a Portugal e não o está a fazer”, afirma Raquel Montón.

A responsável acusou diretamente o Ministério da Indústria, Energia e Turismo espanhol (que tem a tutela deste assunto) de não estar a cumprir essa obrigação para com Portugal.

A Agência Lusa pediu um comentário ao Ministério da Indústria, Energia e Turismo de Espanha, mas até ao momento ainda não obteve resposta.

A Greenpeace “está a tentar que países – como por exemplo Portugal – reclamem junto das autoridades, acionando os convénios internacionais para que se realizem estudos de impacto ambiental mais participados, num processo muito mais transparente”.

De acordo com a Greenpeace, além de Espanha, em vários países da Europa analisados – Bélgica, República Checa, França, Alemanha, Eslováquia, Eslovénia, Suíça, Suécia e Reino Unido – os planos nacionais em vigor também não aumentam de forma suficiente a segurança dos reatores nucleares.

“Não foram aplicadas medidas de proteção cruciais, por exemplo, contra terremotos, inundações e explosões de hidrogénio, nem a instalação de válvulas de segurança adequadas para prevenir a libertação de radioatividade para o meio ambiente em caso de acidente”, indicou a organização ambientalista.

/Lusa

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