/

Cada vez mais pessoas fazem luto nas redes sociais (e isso é positivo)

Cada vez mais, a página de Facebook de pessoas que morrem é transformada num memorial de homenagens e condolências e num local de contato com o falecido, uma prática interativa que os psicólogos consideram saudável, mas com alguns perigos.

Apesar de a sociedade ocidental negar a morte e tudo o que faz lembrar a sua existência, o enlutado necessita de falar sobre a morte e sobre o seu processo de luto e defende que as redes e sociais propiciam um espaço de expressão direta dessas emoções em tempo real, diz Victor Sebastião, psicólogo especializado na área do luto.

“As redes sociais, como o Facebook, estimulam a manifestação de sentimentos e isso pode ser muito positivo”, afirma o psicólogo, reconhecendo que a aceitação da morte é um processo penoso, especialmente na cultura ocidental, mas que a falta de empatia e suporte social tendem a intensificar reações emocionais e contribuir para complicar o processo de luto.

A vice-presidente da Amara – Associação pela Dignidade na Vida e na Morte, Carol Gouveia e Melo, explica que o trabalho de luto é precisamente feito enquanto se revive o passado e se fala sobre a pessoa que morreu.

“Se não nos permitirmos lembrar sobre a pessoa, a dor fica lá e pode tornar-se noutra coisa, já não tão saudável”, adverte, lembrando que o primeiro instinto do Homem é fugir da dor, evitar falar sobre assuntos dolorosos e direcionar o tema para assuntos positivos, porque a morte o incomoda.

Um estudo, elaborado por enfermeiros brasileiros, que analisaram comentários postados no perfil de pessoas falecidas durante o primeiro mês de morte, conclui no mesmo sentido: os sites de redes sociais podem facilitar o enfrentamento do luto, por serem um espaço de expressão com liberdade de discurso e por oferecerem a oportunidade de interações que ajudam a refletir sobre a relação com o falecido e as emoções.

Os enfermeiros concluíram ainda que as redes sociais impulsionam mesmo a manifestação de sentimentos usualmente retraídos, “permitindo a interação social de temas considerados tabus e que dificilmente são tratados abertamente, como a morte e o luto”, facilitando assim o processo de luto.

No meio virtual identificam-se, segundo o estudo, quatro categorias de comentários no mural do falecido: expressar reações emocionais e cognitivas à morte, manter-se conetado ao falecido, divulgar homenagens, eventos e agradecimentos e expressar condolências aos familiares.

Estas interações no perfil do falecido – direcionadas ao falecido, ao público, aos familiares – levam mesmo os enfermeiros a concluir que as redes sociais “podem transformar o luto de um espaço privado para um espaço público”.

Mas algumas publicações nas redes sociais podem ser traumáticas para quem está saudavelmente a atravessar um processo de luto, ressalva Victor Sebastião.

“Há publicações que podem trazer desvantagens, como ser notificado sobre o aniversário de alguém que já morreu, forçando o contato com a dor da perda numa altura em que não se está preparado, o que pode ser sentido como um desrespeito pelo ciclo de luto de cada um”, explica o psicólogo.

/Lusa

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.