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As pessoas odeiam a austeridade, mas adoram o euro

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Paul Krugman, prémio Nobel da Economia em 2008

Paul Krugman, prémio Nobel da Economia em 2008

Uma vez que não vai nem deve sair do euro, Portugal deve ser cuidadoso nas políticas económicas que aplica, como por exemplo o aumento do salário mínimo, num cenário em que o projecto da moeda única continua a apresentar falhas graves que precisam de ser resolvidas ao nível da zona euro.

A mensagem foi deixada esta segunda-feira por Paul Krugman na conferência de homenagem a José da Silva Lopes organizada em Lisboa pelo Banco de Portugal.

O economista norte-americano, que nos anos setenta do século passado esteve com outros alunos do MIT em Portugal a convite do antigo governador do Banco de Portugal, lembrou uma frase que Silva Lopes usava com frequência quando ouvia recomendações de política económica que não considerava viáveis politicamente: “É uma boa ideia, mas isso seria impossível”.

O mesmo tipo de resposta dá agora Krugman quando colocado perante a hipótese de alguns países da zona euro poderem ter vantagens em sair do euro.

“Imaginemos que decidimos que vários países deveriam sair do euro, o que é que fazíamos com os bancos, com os depósitos bancários? As pessoas odeiam a austeridade, mas adoram o euro e nunca querem ver a sua moeda a desvalorizar”, afirma Paul Krugman.

Por isso, apesar de considerar que “o ideal seria não se ter tomado a decisão de entrar na moeda única”, o prémio Nobel da Economia 2008 considera que, em geral e especificamente para o caso português, “não é produtivo estar a pensar numa saída, porque, como diria Silva Lopes, isso é impossível”.

O economista prefere pensar antes “no que pode ser feito que não é impossível” e que pode servir para “reparar o euro”.

Paul Krugman deixou na sua intervenção na conferência três principais sugestões.

A primeira é que a zona euro deve avançar em definitivo para “uma verdadeira união bancária”. Recentemente, a zona euro avançou para a criação de um supervisor bancário comum e para a aplicação de regras de resolução únicas. No entanto, ainda não existe um fundo comum para a resolução de bancos ou um seguro de depósito único.

Para Krugman, avançar rapidamente nestas áreas é “algo que é óbvio que se deve fazer”. ”Fazer com que salvar os bancos seja uma responsabilidade nacional é uma loucura”, afirma.

A segunda sugestão do prémio Nobel para a zona euro é uma maior integração orçamental.

No entanto, Paul Krugman fez questão de esclarecer que quando fala de integração orçamental não é com o mesmo sentido de muito políticos europeus, que pedem o cumprimento dos limites do défice por todos os países “o que que às vezes até tem efeitos negativos”.

O que o economista quer dizer com integração é antes a situação em que as pessoas dos vários países pagam um imposto comum, que depois financia programas de despesa comuns. Por exemplo, a criação de uma rede de segurança europeia a nível social.

Em terceiro lugar, Krugman considera essencial a aplicação de uma política monetária na zona euro que faça com que a inflação não seja tão baixa, porque isso tornaria os ganhos de competitividade menos difíceis de alcançar.

Ao centrar-se nestas soluções a nível europeu numa tentativa de “reparar o euro”, Paul Krugman deixou muito poucas soluções concretas para Portugal.

O economista diz que o país vive “uma situação muito difícil”, com “desemprego muito alto e que ainda seria maior se não fossem as pessoas que emigraram”, para além de um ritmo de crescimento baixo.

Ainda assim, disse, “Portugal está longe do caso extremo que é a Grécia” e, por isso, uma saída do país do euro não é sugerida.

“É muito melhor reparar o euro, que deixar um país entrar numa situação de desespero, em que acabe por sair”, concluiu o Nobel da Economia.

Bom Dia

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